Embora o consumo de hambúrgueres, um elemento definido pelo estilo de vida americano, o consumo de 67 milhões de toneladas de carne na China em 2005 está muito longe dos 38 milhões de toneladas comidas nos E.U. Enquanto o consumo de carne no Ocidente varia entre o bife, porco e aves de capoeira, na China o porco domina totalmente. Metade da produção mundial de carne de porco encontra-se na China.
Os E.U. mantêm a liderança no consumo de petróleo. Em 2004 consumiu 3 vezes mais que a China – 20.4 milhões de barris por dia versus 6.5 milhões de barris. Mas a expansão do seu consumo nos E.U. entre 94 e 04 foi de 15%, na China mais que dobrou, eclipsando o Japão como consumidor de petróleo, a China persegue o caminho dos E.U.
O uso de energia na China inclui obviamente carvão que fornece cerca de 2 terços da energia do país. Queima anualmente 960 milhões de toneladas ultrapassando os 560 milhões de tons gastos pelos EU. Com este nível de consumo de carvão e com a escalada no consumo de petróleo e gás natural, é uma questão de tempo até que as emissões de carbono chinesas atinjam e ultrapassem as dos EU, então o mundo terá dois grandes países conduzindo a mudança climática do planeta.
O consumo chinês de aço, um indicador básico do desenvolvimento industrial, está perto das 2 vezes e meia da dos EU, 258 milhões de tons para 104 milhões de tons em 2003. A China está numa fase de construção de centenas de milhar de fábricas, torres de habitação, escritórios, o consumo de aço atingiu na China níveis nunca vistos em qualquer outro país. A China lidera ainda nos celulares, frigoríficos, televisões. Os E.U. ainda lideram em PC e em automóveis mas por pouco tempo.
Dado que a China ultrapassou os EU em consumo dos recursos básicos, permita-nos fazer a seguinte pergunta:
E se a China apanha os EU em consumo per carpita?
Se a economia chinesa continuar a crescer a 8% ao ano, por volta de 2031 o rendimento per capita será igual ao dos EU em 2004, assumindo os modelos de consumo actuais, a China terá em 2031 cerca de 1.45 biliões de consumidores ao nível dos americanos de 2004. Começamos a antever a resposta à nossa pergunta.
Sendo o consumo actual de cereais dos EU, 900 quilos por pessoa incluindo o uso industrial, a valores actuais, o consumo chinês em 2031 será igual a 2 terços da actual produção cerealífera planetária. Se o uso per capita do papel na China em 2031 atingir os actuais níveis americanos, serão necessários 305 milhões de tons de papel – o dobro da actual produção de 161 milhões de tons. Lá se vão as florestas. Se o consumo de petróleo per capita chinês atingir o nível americano, a China usará 99 milhões de barris por dia. O mundo actualmente produz 84 milhões de barris por dia e nunca produzirá muito mais. Isto ajuda a perceber porque a gastadora China está também atenta à criação das políticas da escassez. Se um dia a China atingir os 3 carros por cada 4 habitantes como nos EU, a frota automóvel seria de 1.1 bilião de veículos, bem à frente da actual frota planetária de 800 milhões. Construção de estradas, auto estradas, parques de estacionamento para tal frota, requeria pavimentar uma área igual à da dos arrozais da China seu principal alimento.
A inevitável conclusão a tirar destas projecções é que não há recursos suficientes para a China atingir os níveis de consumo americanos. O modelo económico ocidental – baseado no petróleo, centrado no automóvel e no descartável – não funcionará para os 1.45 biliões de chineses em 2031. Se não funciona para a China também não resultará na Índia que em 2031 ultrapassará a China em população. Nem funcionará para os restantes 3 biliões de países em desenvolvimento que continuam sonhando com o “American Dream”. E numa economia mundial cada vez mais integrada, onde países por todo lado competem pelos mesmos recursos – o mesmo petróleo, grão ou ferro – o actual modelo económico não funcionará nem mesmo em países industriais.
Lester Brown, Plano B
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