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5 Lester Brown - Aprender com o Passado


O 21º século da nossa civilização global não é o primeiro a enfrentar a perspectiva de um declínio económico com efeitos no ambiente. A questão é como vamos responder. Relatos arqueológicos mostram-nos o que aconteceu a antigas civilizações que perante problemas ambientais falharam na resposta.

Como Jared Diamond salientou no seu Collapse, algumas das antigas civilizações que tiveram problemas ambientais conseguiram mudar de rumo a tempo de evitar o declínio e o colapso. Há seis séculos atrás, os Islandeses divisaram que a pastagem intensiva dos seus prados levaria a uma erosão muito rápida dos seus magros solos. Antes que os solos se perdessem e respectivo declínio económico, os Islandeses juntaram-se para avaliar o número de cabeças que os seus prados aguentariam e atribuíram cotas entre eles de forma a preservar os solos e evitar o que Garrett Hardin mais tarde chamou a “tragédia pública”.

Os Islandeses alcançaram as consequências da pastagem intensiva nos seus prados e reduziram o número de cabeças a um nível sustentável. Nós percebemos as consequências da queima de combustíveis fóssil e respectiva emissão de CO2 para a atmosfera e, contrariamente aos antigos Islandeses não conseguimos restringir as nossas emissões de CO2.

Nem todas as sociedades evoluíram como o exemplo dos Islandeses, cuja economia continua próspera produzindo lã. Os antigos Sumérios no 4º milénio AC foram uma extraordinária civilização atingindo um nível nunca alcançado. Construíram um engenhoso sistema de rega que mantinha uma agricultura muito produtiva permitindo a acumulação de alimentos que suportaram a formação das primeiras cidades. Gerir tal sistema de irrigação requeria uma organização social sofisticada. Os Sumérios edificaram as primeiras cidades e a primeira linguagem escrita, a escrita cuneiforme.

De qualquer ponto de vista foi uma extraordinária civilização, mas houve uma provável falha ambiental no projecto do sistema de irrigação que abalou o fornecimento de alimento. A água retida em barragens construídas ao longo do Eufrates, espalhava-se pelos campos através de uma rede de canais. Parte da água era usada na rega, outra evaporava, outra filtrava-se pelo solo. Nesta região como a drenagem do subsolo é fraca, a água infiltrava-se lentamente subindo os níveis freáticos. Ao atingir a superfície do solo a agua evaporava, deixando resíduos de sal nos solos. Com o tempo o sal foi acumulando tornando-os cada vez menos produtivos. Com a acumulação de sal nos solos, o cultivo do trigo reduziu-se drasticamente levando os Sumérios a mudar para a cevada muito mais tolerante ao sal. Isto apenas adiou o declínio Sumério porque trataram os sintomas e não as causas das quedas de produtividade dos solos. À medida que a concentração de sal aumentava, as colheitas de cevada diminuíam. A eventual queda na produção cerealífera armadilhou os fundamentos económicos desta grande civilização. A fertilidade dos solos foi caindo assim como a civilização.

No Novo Mundo tivemos a civilização Maia nascida nas terras baixas da actual Guatemala. Floresceu de 250DC até ao colapso por volta de 900DC. Tal como os Sumérios os Maias desenvolveram uma agricultura de produtividade elevada baseada na elevação de talhões envoltos numa rede de canais de rega.

A morte dos Maias tal como os Sumérios está aparentemente ligada ao falhanço no fornecimento alimentar. Para os Maias foi a desflorestação e a erosão do solo que arruinou a agricultura. As mudanças no clima tiveram o seu efeito destruidor. A falta de comida aparentemente provocou guerras civis entre as cidades pela posse dos alimentos. Hoje esta região está coberta pela selva.

Durante os últimos séculos da civilização Maia, uma nova sociedade emergia na longínqua ilha de Páscoa, 166 quilómetros quadrados de área a cerca de 3200 km a oeste da América do Sul e a 2200 km da ilha de Pitcairn, a população mais próxima. Estabelecida à volta de 400DC esta civilização floresceu numa ilha vulcânica rica em solo e vegetação luxuriante, árvores de 25 metros de altura com 2 metros de diâmetro. Vestígios arqueológicos indicam que a dieta era de origem marítima, principalmente golfinhos – um mamífero caçado a arpão de canoa no mar alto.

A sociedade da ilha de Páscoa floresceu durante séculos atingindo os 20.000 habitantes. À medida que a população foi crescendo, o abate das árvores excedeu o rendimento regenerativo da floresta. Eventualmente as grandes árvores necessárias para a construção de canoas desapareceram, privando os ilhéus da pesca ao golfinho e necessariamente uma retracção no fornecimento de comida. Os achados arqueológicos indiciam, a partir de certa conjuntura histórica, ossos humanos misturados com ossos de golfinho sugerindo um desespero tal que os levou ao canibalismo. Hoje a ilha tem cerca de 2.000 habitantes.

Uma das perguntas sem resposta sobre estas civilizações primordiais é se eles sabiam a causa do seu declínio. Teriam os Sumérios compreendido que a acumulação de sal nas suas terras reduzia o seu rendimento?

Se sim, porque não tomaram as medidas necessárias para baixar os nocivos níveis freáticos?

Tal como hoje o mundo não combate as perigosas emissões de carbono.

Estes são três exemplos de várias civilizações que orientaram a sua economia a um nível insustentável pela natureza e nós vamos pelo mesmo caminho. Qualquer um dos efeitos degradantes do ambiente pode arruinar a civilização tal como a conhecemos. A falha do sistema de irrigação sumério determinou a falha da sua economia assim como pode acontecer ao sistema de combustível fóssil que define a nossa economia moderna. Para os Sumérios a subida dos níveis freáticos condicionou a economia; para nós é a subida dos níveis de CO2 que ameaça quebrar o progresso económico. Em ambos os casos a ameaça não se vê.

O colapso destas civilizações antigas está associado ao declínio do fornecimento de alimentos. Hoje o acréscimo anual de 70 milhões de pessoas aos 6 biliões de pessoas vivas no nosso planeta num momento de declínio dos aquíferos, subida da temperatura e o progressivo encurtamento do fornecimento de combustível, sugere que mais uma vez o fornecimento de comida é a ligação vulnerável entre o ambiente e a economia.

Lester Brown, Plano B

 
 
 
 

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