O primeiro grande teste à comunidade internacional de gerir a escassez revela-se através do petróleo ou através do cereal. No caso último, pode ocorrer quando a China – cuja produção de grão caiu 34 milhões de tons ou 9%, entre 1998 e 2005 – tornar-se num importador gigantesco de 30 milhões, 50 ou mesmo 100 milhões de tons de cereais por ano. Uma procura a esta escala pode subverter totalmente o mercado internacional de cereais. Quando isto acontecer, a China olhará para os EU que controla 40% das exportações mundiais ou seja 200 milhões de tons.
Este cenário revela uma fascinante situação geopolítica. Mais de 1.3 biliões de consumidores chineses com 160 biliões de dólares a seu favor no comércio com os EU em 2004 – o suficiente para comprar o dobro da produção cerealífera americana – competirão com os americanos pelo cereal dos EU, aumentado o preço dos alimentos nos EU. Numa situação semelhante há 30 anos atrás, os EU pura e simplesmente restringiam a exportação, mas agora, a China é o banqueiro dos EU, subscrevendo uma boa parte do deficit colossal americano, comprando mensalmente títulos do Tesouro dos EU.
Dentro de alguns anos os EU deverão carregar diariamente 1 ou 2 barcos de cereais para a China. Esta longa linha de embarcações através do Pacifico será o cordão umbilical fornecendo alimento e a ligação estreita entre ambas as economias. Gerir este fluxo de grão de forma a satisfazer os consumidores de ambos os países ao mesmo tempo que as emergentes destilarias de etanol competem pelas colheitas de grãos, pode tornar-se um sério desafio às políticas internacionais neste novo século.
O modo como o mundo adaptar as vastíssimas necessidades da China, Índia e outros países em desenvolvimento de grão, petróleo e outros recursos ajudará a determinar a situação do stress associado à sobre população. O que irá suceder aos países importadores de baixo rendimento, ajudará a determinar a futura estabilidade politica. E finalmente a resposta americana à crescente procura chinesa de cereais e a respectiva subida de preços dos alimentos nos EU, dir-nos-á muito sobre a capacidade de os países gerirem as emergentes politicas da escassez.
O maior risco eminente é a entrada da China no mercado mundial conjugada com a crescente e diversificada procura de produtos agrícolas para a produção de bio combustíveis provocarão uma subida nos preços do grão que muitos dos países de baixo rendimento não terão capacidade de o comprar. A escalada dos preços dos alimentos num clima político instável pode estilhaçar o progresso da economia global.
As civilizações antigas que seguiram uma via económica ambientalmente insustentável fizeram-no em total isolamento. Mas na actual economia global integrada e interdependente se enfrentarmos um declínio civilizacional, será global e interdependente. O destino dos povos está interligado. Esta interdependência pode ser gerida em mútuo benefício se reconhecermos que o termo “no interesse nacional” é em larga medida obsoleto.
Lester Brown, Plano B
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