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Pára e pensa

O conhecimento só é pertinente quando é capaz de contextualizar a sua informação, de globalizá-la e situá-la em conjunto. Sem dúvida que o nosso sistema de pensamento, que impregna o ensino da escola primária à universidade, é um sistema parcelado da realidade e faz com que as mentes sejam incapazes de relacionar os distintos saberes classificados em disciplinas. Esta hiper-especialização dos conhecimentos, que conduz a extrapolar um só aspecto da realidade, pode ter importantes consequências humanas e práticas no caso, por exemplo, das políticas de infra-estruturas que muitas vezes ignoram o contexto social e humano. Contribui igualmente a despojar os cidadãos de decisões politicas a favor dos especialistas.

A reforma do pensamento implica o confronto da complexidade com ajuda de instrumentos, de conceitos capazes de relacionar os diferentes saberes que estão à nossa disposição actualmente. Trata-se de algo vital para esta era planetária. Esta reforma do pensamento, que precisa por sua vez de uma reforma da educação, não está em marcha em nenhum sítio e é, sem dúvida, necessária.

No século XVII, Pascal compreendeu já até que ponto tudo está vinculado, reconhecendo que “cada coisa é ajudada e ajudante, causada e causadora” - inclusivamente tinha o sentido da retroacção, o qual é admirável para a sua época -, “e estando tudo relacionado com um vínculo invisível que une as partes entre si, parece-me impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, assim como conhecer o todo sem conhecer as partes”. Eis a sua frase chave. A educação deveria tender para esta aprendizagem.

Mas, desgraçadamente, temos seguido o modelo de Descartes (contemporâneo de Pascal) que preconizava a divisão da realidade dos problemas. Sem dúvida, o todo produz qualidades que não existem nas partes separadas. O todo não é nunca unicamente a soma das partes. É algo mais.

Edgar Morin

 
 
 
 

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