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contribuições para a Utopia - Fuller


A nossa pequena Nave Espacial Terra tem apenas doze mil quilómetros quadrados de diâmetro, o que, na enorme vastidão do espaço, constitui uma dimensão quase negligenciável. A estrela mais próxima de nós – o Sol, a nossa nave-mãe abastecedora de energia – encontra-se a cento e cinquenta milhões de quilómetros de distância, e a estrela seguinte cem mil vezes mais afastada. A luz demora dois anos e meio a chegar até nós vinda desta segunda nave estelar abastecedora de energia. É nesta escala de dimensões espaciais que voamos.

A Nave Espacial Terra foi tão extraordinariamente bem inventada e concebida que, tanto quanto sabemos, os humanos estiveram a bordo dela durante dois milhões de anos sem nunca se terem apercebido de que se encontravam a bordo de uma nave espacial. E a nossa nave espacial está tão soberbamente concebida que consegue manter a vida regenerando-se a bordo apesar do fenómeno da entropia, pelo qual todos os fenómenos físicos locais perdem energia. Devemos assim obter a nossa energia regeneradora da vida a partir de outra nave espacial – o Sol.

Parte do extraordinário design da Nave Espacial Terra, do seu equipamento, passageiros e sistemas internos de apoio, advêm de termos sido dotados de capacidades intuitivas e intelectuais tais como as de descobrir os genes, o ADN e o ARN, e outros princípios fundamentais do design dos sistemas vivos, da estruturação molecular e da energia nuclear. É portanto paradoxal, mas estrategicamente explicável, que tenhamos até agora espoliado, poluído e usado erradamente este extraordinário sistema químico de intermutação energética concebido para regenerar adequadamente toda a vida a bordo da nossa nave espacial planetária.

Existe um facto sumamente importante relacionado com a Nave Espacial Terra que é o de nenhum manual de instruções vir a acompanhá-la. Considero muito significativo não existir nenhum manual de instruções com o qual possamos operar adequadamente a nossa nave espacial. Devido à infinita atenção evidenciada por todos os outros detalhes, acho que o facto do manual de instruções ter sido omitido deve ser entendido como deliberado e intencional. Esta falta de instruções forçou-nos a descobrir que existem duas espécies de bagos vermelhos – bagos vermelhos que matam e bagos vermelhos que alimentam. Antes de comer um bago vermelho tivemos de descobrir qual dos dois se tratava, pois de outro modo morreríamos.


"Manual de Instruções para a Nave Espacial Terra", Buckminster Fuller.
Editado em Portugal pela Via Óptima.

 
 
 
 

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