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Entropia: "Progresso" para a destruição!

O IF publica integralmente uma entrevista com o Dr. Mario Bruno Sproviero, professor titular da Uni. de São Paulo, conduzida por Jean Lauland sobre o conceito de entropia, um fenómeno conhecido da Física mas de aplicação a todos os sistemas nomeadamente os económicos, sociais e ambientais. Um grande contributo para melhor compreender este fenómeno tão pertinente como afastado da opinião publica:

Entropia: "Progresso" para a destruição!

JL: Qual o alcance e o significado do tema "entropia" no mundo de hoje?

MBS: Com o problema da entropia ocorre um fenômeno curioso: apesar de ter a máxima importância, afetando diretamente - a curto, médio e longo prazo - a própria sobrevivência humana no planeta, tem sido bem pouco divulgado e assim praticamente ignorado pela opinião pública.

Recentemente, foi publicado na Europa a tradução atualizada do clássico Enthropy de Jeremy Rifkin, que apresenta a tendência universal de todos os sistemas - incluídos os econômicos, sociais e ambientais - a passar de uma situação de ordem à crescente desordem. Portanto, deve ser discutido por toda a sociedade, em todos os seus setores e não apenas em círculos especializados de cientistas.


JL: Por que o descaso com o problema da entropia, se se trata de tema tão grave e premente?

MBS: Para a visão mecanicista do mundo, tipicamente moderna, na linha que une Descartes, Galileu, Bacon, Newton, Locke e Adam Smith (este na economia e Locke na concepção social), a idéia de progresso é tão conatural que nem pensamos em discuti-la. Ora, nosso tema incide precisamente neste ponto: "a lei da entropia mina a idéia da história como progresso. A lei da entropia destrói a idéia de que a ciência e a tecnologia criam um mundo mais ordenado".

Numa visão mecanicista, a ênfase está unicamente no que se ordena e se desconsidera a desordem causada pela ordenação. É como se ignorássemos, por exemplo, o problema do lixo ao arrumarmos nossa casa. Quando a casa é o próprio planeta pensar que "o resto" não interessa é a síndrome do avestruz...


JL: Comecemos pela caracterização e definição de entropia

MBS: Originalmente, "entropia" (troca interior) surgiu como uma palavra cunhada do grego de em (en - em, sobre, perto de...) e sqopg (tropêe - mudança, o voltar-se, alternativa, troca, evolução...). O termo foi primeiramente usado em 1850 pelo físico alemão Rudolf Julius Emmanuel Clausius (1822-1888).

Para caracterizar a entropia, vamos partir de uma renomada autoridade, o físico Enrico Fermi, um dos pais da bomba atômica. Em seu Thermodynamics, ele define a primeira lei da termodinâmica:

"A primeira lei da termodinâmica é essencialmente a afirmação do princípio de conservação da energia para sistemas termodinâmicos. Como tal, pode ser expressa do seguinte modo: 'A variação de energia num sistema durante qualquer transformação é igual à quantidade de energia que o sistema troca com o ambiente'. Esta primeira lei não coloca limitações sobre as possibilidades de transformação de energia de uma forma para outra".

Ora, essa possibilidade ilimitada de transformação é a base de toda a civilização do progresso. Já a segunda lei da termodinâmica impõe severas limitações: "É ímpossível uma transformação cujo resultado final seja transformar em trabalho todo o calor extraído de uma fonte" (postulado de Kelvin).


JL: Como se traduz isto em termos gerais?

MBS: O primeiro princípio estabelece que a energia não pode ser criada nem aniquilada. Há ainda um terceiro princípio -o do equilíbrio- que indica que dois corpos -ambos em equilíbrio térmico com um terceiro- se colocados em contato, encontram-se em equilíbrio entre si.

O curioso é que historicamente o próprio primeiro princípio tenha causado tanta oposição e resistência para ser aceito, porque havia o ideal de construir uma máquina que pudesse efetuar trabalho sem consumir energia (motu perpetuo da primeira espécie). Em linguagem leiga, o segundo princípio indica que, com o tempo, dispomos sempre menos de energias utilizáveis. Ou, resumindo: "a energia total do universo é constante e a entropia (a desordem) total está em contínuo aumento".

Estamos, então, num universo que se degrada energeticamente, e esta realidade deveria levar a um dispêndio minimal das energias disponíveis, ainda mais no sistema de nossa pobre Terra, cujos materiais utilizáveis são muito limitados. Portanto, a produtividade não deveria ser medida pela maior quantidade de bens econômicos produzida num determinado período de tempo, mas sim pela maior quantidade produzida com o menor dispêndio energético possível. E, do mesmo modo, criar a ordem que deixe menos desordem (em outros âmbitos).

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JL: E que soluções se apresentam, se tomarmos existencialmente a questão da entropia?

MBS: Aqui é realmente trágico. Rifkin fala de uma volta radical a um ritmo natural no qual se deve reverter drasticamente o sentido do fluxo campo-cidade, as pessoas deveriam voltar ao campo, as cidades não deveriam comportar mais do que cem mil habitantes e a população mundial não superar um bilhão de habitantes. É precisamente com base nessas constatações que surgem atualmente grupos de fanáticos como o Aum Shinrikyô. Pouca gente deu atenção ao fato de que o famoso atentado no metrô de Tóquio, o do gás sarin, foi motivado por uma ideologia de eliminação de estratos inferiores da (super) população. De fato Shoko Asahara estava ligado aos militantes russos seguidores de Vladimir Zhirinovskij e, presumivelmente, à proscrita extrema direita alemã do NSDAP (Partido Nacional-Socialista do Trabalho). Nem cabe portanto considerar a disparatada proposta rifkiniana de reduzir a população de seis para um bilhão.

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JL: Qual o papel do computador e da informática na entropia?

MBS: Por um lado, o computador permite operacionalizar as transformações de energia, acelerando o esgotamento dos limitados recursos de energia e materiais. Por outro lado, o computador é a realização concreta desse abstrato que Heidegger (e o fato incrível é que Heidegger sequer conheceu os computadores) chamava de Ge-stell (dis-positivo, aparelho, aparato, armação, estante etc.): "Já que a essência da técnica moderna repousa no Ge-stell, daí decorre a necessidade da técnica de empregar a ciência exata da natureza. Daí origina-se a aparência enganadora de que a técnica moderna seja ciência natural aplicada". Resumindo, temos uma ciência abstrata, uma realidade virtual (formada pela tecnologia) e uma base real: o esgotamento energético real (não intuído).

Pode-se dizer que a revolução informática do aparelho - dispositivo que produz informação - completou a revolução industrial da máquina - dispositivo que produz trabalho. Máquinas e aparelhos são, na atual crise, já visíveis como agentes do nihilismo da demiurgia humana.

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