Já alguma vez se sentou muito silenciosamente, sem fazer esforço para se concentrar, mas antes com a mente muito quieta, realmente tranquila? Então ouvem-se os sons exteriores longínquos, também os mais próximos, os que estão muito perto, os sons imediatos -- o que significa que realmente está a escutar tudo. A sua mente não está então confinada a um pequeno e estreito canal. Se puder escutar desta maneira, de maneira fácil, sem esforço, sem tensão, descobrirá que uma extraordinária mudança acontece dentro de si, mudança que vem sem o seu querer, sem o seu desejo; e, nesta mudança, existe muita beleza e também a percepção interior, imediata e profunda.
Todos nós sofremos. Não sofremos todos nós, de uma maneira ou de outra? E desejamos aprender acerca disso? Então, podemos investigar e tentar explicar por que sofremos. Podemos ler livros sobre esse assunto, ou ir à igreja e em breve saberemos algo acerca do sofrimento. Mas não estou a falar disso; estou a falar sobre o findar do sofrimento. E o conhecimento não lhe põe fim. O findar do sofrimento começa com o enfrentar psicológico dos factos dentro de nós próprios e estando totalmente atentos a todas as implicações desses factos de momento a momento. O que significa nunca fugirmos do facto de que sofremos, não racionalizando, não emitindo opiniões acerca do sofrimento, mas vivendo com o facto completamente. Sem nos habituarmos ao sofrimento.
Pergunto se sabeis o que significa dar atenção a qualquer coisa? A maior parte de nós não dá atenção total, porque estamos habituados a condenar, a julgar, a avaliar, a identificar, a escolher. E a escolha obviamente impede esse estado de atenção porque é sempre resultado do conflito. Estar totalmente atento quando se entra numa sala, ver a mobília, a carpete ou a sua ausência, etc..., -- apenas ver; prestar atenção sem qualquer sentido de julgamento, é muito difícil. Já tentaram olhar para uma pessoa, para uma flor, uma ideia, uma emoção, sem qualquer escolha ou julgamento?
in "O Livro da Vida" de Krishnamurti
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