Há uma lamentação nas coisas imperfeitas
como se amassem, como se se recordassem.
Tudo pede um deus. E o lamento
é a própria imperfeição. A terra é fulgurante,
macera as criaturas, dá-lhes alimento,
venenos, temperaturas. E sobre os arenitos
depõe restos de chuva, as erosões gravadas
dos apagamentos. A dor deve doer
e os animais agitam-se, movem a cabeça
ao mais leve chamamento. Mas não há chamamento.
Apenas o sussurro de regresso ao horizonte:
um álamo negro, o deus, a voz humana.
Carlos Poças Falcão
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